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Filmes que vi na Semana #3 de 2023 (16-22/01) – cinema queer é destaque

A semana foi de poucos filmes recentes, vi algumas séries, e fiquei impactado por alguns filmes queers que vi. Bora lá aos destaques:

“Petite nature” de Samuel Theis (“Softie”, 2021, França) [queer]

Nossa, fiquei bem impactado com esse filme, pois não esperava. Sempre fico assustado com atuações mirins geniais em papeis difíceis. Aliocha Reinert é um achado impressionante, e está indicado ao César de revelação masculina. Nele, ele interpreta um menino que busca seu espaço no mundo entre uma família que não o interessa e os desejos sexuais/românticos que afloram, em uma pequena cidade francesa na fronteira com a Alemanha.

Entre os adultos, Antoine Reinartz sustenta muito bem um papel difícil como o professor apaixonado pela profissão. 

“Sugar” de John Palmer (2004, Canadá) [queer]

Fiz um textinho longo após ver o filme.

“Olhe Para Trás” de Niels Bourgonje (“Turn It Around”, 2017, Países Baixos) [curta] [queer] [teen]

Achei um filme bem bonito e meio inesperado de tão bem feito que é. É um exemplo perfeito de curta, em que estilo e trama se juntam para contar uma história meio simples, mas bem bonita, que vai se desenvolvendo aos poucos com um final bacana. Me lembrou um pouco SKAM o estilo de filmar jovens em festas. 

“Starcrossed: O Amor Contra o Destino” de James Burkhammer (2005, EUA) [queer]

Filme bonito sobre dois irmãos que acabam se apaixonando. O final trágico, é um pouco exagerado, mas não deixa de ser bonito. Mais um da leva de gays na piscina.

Byron: Ballad for a Daemon” de Nikos Koundouros (“Byron, i balada enos daimonismenou”, 1992, Grécia/Rússia) [queer]

A história de Lord Byron é sempre curiosa e eu fiquei empolgado de ver esse filme sobre a participação dele na guerra de independência grega. Porém, achei o filme um tanto confuso, ainda que isso talvez seja quase um elogio ao estilo escolhido. Tem um aspecto meio queer ali, com um personagem Loukas fazendo a vez de Nicolo Giraud, mas é tudo muito abstrato.

Temporada 2022/2023

“The Sailor” de Lucia Kasová (2021, Eslováquia)

História incrível de Paul Johnson, um britânico errante pelo mundo. É bem emocionante e claro que meu coração e corpo globetrotter já se viu ali. Ele que foi um jovem loiro, alto, lindo e chegou a fazer bastante dinheiro como designer de barcos revela que “nunca imaginava que viveria tanto” (“so fucking long”) e hoje já vaga sem rumo, pensando no passado. A câmera segue ele de uma maneira 

“RRR: Revolta, Rebelião, Revolução” de S.S. Rajamouli (“RRR (Rise Roar Revolt)”, 2022, Índia)

Uma grande diversão, mas que não me empolgou tanto. Não vi aquele tal do bromance queer que tantos viram. Não sei muito bem o que pensar daquele tom tão nacionalista, especialmente o número final. A sequência de  “Naatu Naatu” é impressionante, e curiosamente foi filmada no palácio presidencial ucrâniano em agosto de 2021. 

“That’s 90 Show – 1ª Temporada” (“That’s 90 Show” – Season 1) de Gail Mancuso (ep 1-8), Laura Prepon (9-10)

Não vou negar que eu ri um bocado, além de ter ficado assustado com o fato de que os anos 90 já estão para nós o que os anos 1970 estiveram para os anos 1990. É estranho ver uma série nova com a risada de audiência. Se em “Wandinha” (“Wednesday”) que eu terminei de ver em janeiro, fiquei meio triste com tanta barrigada, aqui é uma barrigada de início ao fim. Nada de novo, umas risadas específicas com coisas dos anos 1990 (internet discada, computador, e um bando de coisa que eu já esqueci) e cada personagem tem um referencial na série original, ainda que Mace Colonel é um aperfeiçoamento ao personagem de Ashton Kutcher (talvez por ser meio que uma mistura com Topher Grace). A versão de Fez aqui é um jovem gay, algo quase nunca mencionado (exceto em um episódio em que ele é meio o protagonista e nas esparsas piadas sobre o namorado canadense) Ou seja, para mim que curtia sem compromissos aquela série, eu embarquei bem, mas para quem não conhece nada, talvez perca essa carga nostálgica. 

Destaques dos arquivos

“Desejo” de Vojtech Jasný (“Touha” / “Desire”, 1958, Tchecoslováquia)

Filme bem bonito do mesmo diretor de “Um Dia, Um Gato”, com quatro histórias mostrando a passagem do tempo. As quatro histórias emulam as estações de tempo: um garoto a espera do nascimento de sua irmãzinha na primavera; uma adolescente que se apaixona no verão; uma mulher adulta que tenta viver sua independência como uma trabalhadora no outono e uma professora viuva cujo filho mora longe e fica doente.

A história final em particular é bem bonito, enquanto a segunda é bem sensual, usando de forma impressionante as paisagens locais, e a primeira é bem bonita. A terceira fica meio perdida, mas também tem seu poder. Um filme que empolga.   

“Death in the Land of Encantos” de Lav Diaz (“Kagadanan sa banwaan ning mga engkanto”, 2007, Filipinas/Países Baixos

Sobrevivi a nove horas de um filme bem desafiador que vi durante o domingo. É um treinamento para ver o “Evolução de uma família filipina”, de 10h43m que perdi na mostra do CCBB em 2011 (acho). Um filme feito a partir de um desastre: Lav Diaz correu para uma região devastada por um tsunami para fazer um filme sobre amigos que se reencontram. Muito bonito, aliás, o momento do primeiro encontro dos amigos que se vêem depois de anos em meio a destruição.

Um deles, um escritor que mora na Rússia volta para rever a família, amigos e o local, e acaba caindo numa espécie de loucura. Os amigos fazem parte de um grupo de artistas locais, e fico me perguntando o quanto tem de referência ali. O começo é particularmente bom, mas acho que em algum momento eu comecei a me desconectar, talvez porque eu gostava tanto do personagem protagonista e quando ele começa a sair (ou perder a mente) o filme cai um pouco.

Algumas partes me chocam: as histórias trocadas (mercador velho que fica 20 anos preso, apesar da premonição da esposa; a mulher que salva o bebê e vizinhos; etc). Eu me lembrei das minhas viagens quando o protagonista conta que quase foi morto num ponto de ônibus quando percebeu uma moça da Chechênia que vestia uma jaqueta mesmo sendo verão e não entrou nele por estar cheio e todos demoraram muito para reagir a história.

“A Humanidade” de Bruno Dumont (“L’humanité” / “Humanity”, 1999, França)

Um filme bem bonito, com uma interpretação magistral de Emmanuel Schotté, premiado em Cannes (junto com Séverine Caneele, que levou prêmio de atriz). Alguns simbolismos são marcantes, e a cena final é bem forte, elevando toda a tragédia. O cinema de Dumont é de difícil entrada, mas esse é um bom início. Schotté me lembrou um amigo meu então achei mais curioso ainda. E gosto como ele em um filme tão “elevado” e místico inclui umas coisas bem trashes e maravilhosas como a moça sacando a sunga do amigo do amigo na frente do namorado.

“Breaking Bad – 1ª Temporada” (“Breaking Bad – Season 1”, 2008, EUA)

Finalmente comecei a ver essa série, cujo mundo sempre tive meio que falta de vontade para entrar.

“The Plastic Dome of Norma Jean” de Juleen Compton (1966, EUA)

Filme curiosíssimo que dialoga o culto do estrelato norte-americano. A moça seria uma “Versão originária” de Marilyn Monroe que tem visões com um grupo de rock iê-iê-iê e acabam criando um domo para a apresentação deles, que os levam a uma fama local. A relação dos dois protagonistas é bem estranha: seriam irmãos? Um amor não-correspondido?

“Levanta-te, Meu Amor!” de Mitchell Leisen (“Arise my love”, 1940, EUA)

Vencedor do Oscar de melhor argumento, mas o roteiro é de Billy Wilder e Charles Brackett, que não foram indicados. Até certo tempo, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood separava o argumento, que era a ideia geral do filme, a sinopse de uma forma mais ampla do roteiro que incluía diálogos e detalhes. Tudo isso era um reflexo do sistema de estúdios que separava essas funções.

O filme coloca uma jornalista e um piloto americano em meio ao turbilhão europeu entre 1938 e 1940 desde a Guerra Civil Espanhola até a tomada de Paris pela Alemanha. Claudette Colbert e Ray Milland estão excelentes e é sempre legal ver um filme norte-americano estar atento a questões globais – ainda que Bosley Crowther tenha comentado em sua crítica da época para o New York Times que o filme justamente se aproveitava de uma visão romantizada da guerra para seguir com o típico filme “Abril em Paris” em meio a realidade. 

Outros filmes que valem a pena

“Kordavision” de Hector Cruz Sandoval (“Kordavision: The man who shot Che Guevara”, 2006, México/EUA/Cuba)

Bela homenagem a Alberto Díaz Korda, um dos principais fotógrafos cubanos e que criou a imagem icônica de Che Guevara. Além da história desta foto, vemos o dia-a-dia dele na Cuba da virada do século e um pouco sua trajetória. O momento mais marcante é quando ele e outros fotógrafos do Granma reencontram Fidel Castro, e lembram histórias. Korda foi o fotógrafo pessoal de Castro por muitos anos. A conversa sai leve e fluída, e é possível entender melhor o grande carisma do líder cubano.

“As Garotas” de Mai Zetterling (“Flickorna” / “The Girls”, 1968, Suécia)

Três atrizes fazem uma turnê sueca de “Lisístrata” de Aristófanes, enquanto elas mesmo passam por problemas amorosos e sexuais na vida real e tentam conciliar o feminismo e relações com outros homens. Um filme que joga questões de forma meio simplista, mas o trio Bibi Andersson, Harriet Andersson e Gunnel Lindblom não perde a linha. No meio do filme tem uma curiosa cena em que as atrizes suecas dançam samba.

“Elemento de um Crime” de Lars von Trier (“Forbrydelsens element” / “The Element of Crime”, 1984, Dinamarca)

Não tem o que fingir aqui: não entendi quase nada, mas acho que sinceramente não importa muito. O pior é que eu não embarquei muito seja na história ou na estética, ainda que estivesse curtindo no início. “Europa” é um filme que eu adoro então fiquei um pouco decepcionado.

“O Altar do Diabo” de Daniel Haller (“The Dunwich Horror”, 1970, EUA)

Um filme de estilo britânico, essa adaptação de H.P. Lovecraft é um curioso e divertido filme de terror suburbano, envolvendo histórias rocambulescas e tradições familiares escusas. Vale para fãs de terror.

“Very Nice, Very Nice” de Arthur Lipsett (1961, CAN) [curta] 

Curta colagem curioso e empolgante.

“Fábrica” (“Fabryka” /  “Fabric”, 1971, Polônia) e “Sete Mulheres de Diferentes Idades” (“Siedem kobiet w różnym wieku” / “Seven Women of Different Ages”, 1978, Polônia) de Krzysztof Kieslowski [curta]

Dois curtas de Kieslowski, sobre assuntos bem diferentes: no primeiro, o dia-a-dia e reuniões de uma fábrica (composta prioritariamente por homens) e no segundo, uma bela história de sete mulheres bailarinas em que os dias da semana fazem referência à fase na vida de cada uma. Documentários bonitos do célebre diretor polonês, com um foco carinhoso nas personagens.

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